Resumo

Objetivos: É comum utilizar-se protocolos que reúnem vários procedimentos a fim de refinar a avaliação do comportamento animal no estudo de potenciais substâncias com atividade ansiolítica e antidepressiva. Assim, este estudo visou determinar possíveis interferências da pré-exposição (P-E) a um procedimento experimental sobre os parâmetros avaliados no procedimento subsequente, em modelos comportamentais para a avaliação da atividade ansiolítica e antidepressiva em camundongos; e propor uma bateria sequencial de procedimentos válida para a otimização dos protocolos padrão utilizados na pesquisa pré-clínica em ansiedade e depressão. Métodos: Parâmetros clássicos de modelos de atividade ansiolítica (LCE: labirinto em cruz elevado e CCE: caixa claro-escuro) e antidepressiva (SPC: teste da suspensão pela cauda) e atividade motora geral (CPA: campo aberto) foram avaliados em grupos de camundongos suíços machos, 45 dias, com P-E ou não a um desses procedimentos. Essa fase teve como objetivo identificar interferências da P-E (intervalo de 30 min) a cada um destes procedimentos sobre os parâmetros avaliados no procedimento subsequente. Os resultados dessa fase possibilitaram o estabelecimento de uma bateria sequencial na qual os parâmetros avaliados em cada procedimento não sofreram alteração resultante da P-E. A essa bateria, foram submetidos animais pré-tratados com diazepam (DZP-2 mg/kg), imipramina (IMI-30 mg/kg), salina (SAL-0,09%) ou tween® (TWN-0,01%). Os resultados, apresentados como mediana;Q1-Q3, foram comparados pelo teste de Mann-Whitney ou Kruskall-Wallis, sendo consideradas significantes as diferenças associadas a p<0,05. Resultados e Conclusão: A P-E ao CPA não promoveu alterações nos parâmetros avaliados no LCE, CCE ou SPC; assim como a P-E ao SPC não alterou os parâmetros nos outros modelos. Entre ambos, optou-se por estabelecer o CPA como o primeiro procedimento da bateria sequencial, pela menor exigência comportamental. Por outro lado, a P-E, tanto ao LCE quanto à CCE, modificou o número de empinadas. A P-E ao LCE aumentou (13;12-15) esse parâmetro na CCE e diminuiu (23;8-35) no CPA, em relação aos controles 10(8-12) e 41(30-55), respectivamente. A P-E à CCE diminuiu esse parâmetro no LCE (14;6-20) e no CPA (26;13-39), comparados com os respectivos controles (24;21-31) e (42;28-49). Essas interferências justificam a não utilização do LCE ou CCE como primeiro procedimento da bateria. Os resultados obtidos no LCE, especialmente no número de entradas e tempo de permanência nos braços abertos foram próximos de zero, independentemente do momento (P-E ou não) em que o modelo foi executado, dificultando a identificação da atividade ansiogênica. Por este motivo, optou-se pelo CCE em detrimento do LCE para essa avaliação. A aplicação da bateria sequencial em animais pré-tratados com as drogas padrão foi efetiva em identificar atividade ansiolítica pelo aumento do tempo de permanência no compartimento claro de 75;42-93 para 149;136-178 no grupo com DZP; e redução do tempo de imobilidade de 88;62-118 para 12;6-28, parâmetro associado à atividade antidepressiva da IMI. Assim, mesmo considerando a interferência resultante da P-E a diferentes modelos experimentais, essa pode ser evitada com um rearranjo adequado na ordem dos procedimentos utilizados. A sequência proposta (CPA, CCE e SPC) se mostrou adequada para detectar atividade ansiolítica e antidepressiva, bem como alterações motoras, num único experimento.