Oral / Poster
J.219 | PERFIL NEUROPSICOLÓGICO DA SÍNDROME ALCOÓLICA FETAL NA POPULAÇÃO PEDIÁTRICA: ESTUDOS DE CASO | Autores: | Beatriz de Andrade Sant'anna (UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo) ; Silvia Cristina Freitas Feldberg (PUC-SP - Universidade Católica de São Paulo) ; Claudia Berlim de Mello (UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo) ; Mauro Muszkat (UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo) ; Orlando Francisco Amodeu Bueno (UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo) |
Resumo Objetivo. Descrever aspectos do funcionamento neuropsicológico, comportamental e das competências acadêmicas na Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) associada a malformações do corpo caloso, a partir da avaliação interdisciplinar de dois casos. Método. Foram avaliados dois sujeitos: S1, sexo feminino, 13 anos, 7º ano do ensino fundamental, e S2, sexo masculino, 7 anos, 2º ano do ensino fundamental. O diagnóstico de SAF foi estabelecido por médico neuropediatra, e as malformações foram detectadas em exame de neuroimagem. A avaliação interdisciplinar abrangeu procedimentos de investigação neuropsicológica, comportamental e psicopedagógica. A bateria neuropsicológica incluiu medida de nível intelectual (WISC-III), bem como testes de funções visoconstrutivas, atenção visual contínua, funções executivas, memória operacional e linguagem. A avaliação comportamental foi baseada em um inventário de comportamentos, respondido pela família. Avaliação psicopedagógica envolveu a avaliação da linguagem oral, investigação das aquisições nos domínios da leitura e da escrita, habilidades matemáticas e teste projetivo. Resultados. S1: foi observada deficiência intelectual leve (QI=65), com discrepâncias entre o domínio verbal (QIV=52) e não-verbal (QIE=85). Também se constatou alterações visoconstrutivas em tarefas com uso de lápis e papel, baixo desempenho em provas de atenção, raciocínio verbal e funções executivas (evidências de flexibilidade mental pouco eficiente e comportamento perseverativo). A capacidade de manipulação mental das informações mostrou-se relativamente preservada. Apresentou leitura não fluente com dificuldade de compreensão. Mostrou-se alfabetizado, mas com erros sistemáticos na escrita. No domínio matemático demonstrou conhecimento apenas em operações envolvendo adição na área da dezena, com necessidade de apoio de material concreto. S2: verificou-se igualmente deficiência intelectual leve (QI=69), com relativo melhor desempenho em tarefas de execução (QIE=76) do que em tarefas verbais (QIV=67), além de alterações visoconstrutivas, na atenção, no raciocínio verbal e nas funções executivas (flexibilidade mental pouco eficiente e comportamento perseverativo). A capacidade de manipulação mental de informações também esteve preservada. No que se refere aos aspectos acadêmicos, reconheceu as letras do alfabeto de forma mecânica, mas teve muita dificuldade para representação cognitiva apoiada em relatos orais ou gráficos. Em relação à matemática não mostrou conhecimento formal das operações, mas conseguiu fazer cálculos de maneira informal. Do ponto de vista comportamental, em ambos os sujeitos estiveram alterados os aspectos relacionados à atenção, sendo que S1 também apresentou fatores de risco para ansiedade e S2 queixas somáticas. Conclusão: Os resultados da avaliação interdisciplinar mostraram um perfil neuropsicológico semelhante nos dois casos de SAF associado a malformações do corpo caloso, com melhor preservação das habilidades não-verbais quando comparadas às verbais. Observaram-se principalmente alteração do funcionamento executivo, da atenção e prejuízos na linguagem referentes à abstração, fatores que refletem na aquisição de conteúdos escolares e possivelmente interferem no comportamento. Os dados apontam para possível perfil neuropsicológico associado a este diagnóstico e sugerem, portanto, a necessidade de programas de intervenção específicos para esta população. Palavras-chave: Síndrome Alcoólica Fetal, cognição, avaliação neuropsicológica, lesão cerebral, neuroplasticidade |