Resumo

Objetivos: A progesterona é um esteróide prescrito para combater os sintomas da fase perimenopausal em mulheres. Além do combate a esses sintomas, ela tem sido eficaz na melhora de alguns casos de depressão. A alopregnanolona é um metabólito da progesterona que modula positivamente o receptor GABA-A. O sistema GABAérgico apresenta assimetria funcional e está envolvido na fisiopatologia de diversos transtornos afetivos. O objetivo deste estudo foi verificar o efeito da progesterona sobre o comportamento tipo-depressivo e sobre a expressão do mRNA e da proteína das subunidades α1 e γ2 do receptor GABA-A no córtex pré-frontal direito e esquerdo de ratas em diestro. Métodos: Foram utilizadas ratas Wistar com 2 a 3 meses de idade em diestro (DII) (n=8-10/grupo). No primeiro dia, as ratas foram treinadas no teste do nado forçado. Após o treino, os animais receberam injeção de progesterona (P) (0,4mg/kg) ou veículo (C) (i.p.), repetida a cada 24 horas durante 2 ciclos estrais completos. Após a última injeção, os animais foram submetidos ao teste, que foi gravado para a análise etológica. Trinta minutos após o teste, os animais foram decapitados e os córtices pré-frontais direito (D) e esquerdo (E) coletados e congelados para posterior análise. Foi realizado RT-PCR e Western Blot para a análise da expressão do mRNA e da proteína das subunidades α1 e γ2 do receptor GABA-A. Os resultados foram analisados por ANOVA/SNK e correlação de Pearson, e estão apresentados como média±erro padrão. Resultados: O tratamento com progesterona diminuiu a imobilidade nas fêmeas em DII (88,1±17,9) em relação ao grupo controle (153±15,3) (Fint(3,109)=11,808, P<0,001). O tratamento aumentou a expressão do mRNA da subunidade α1 em relação ao grupo controle em ambos os hemisférios (CD=0,33±0,05, CE=0,69±0,12, PD=0,85±0,1, PE=1,01±0,15) (Ftrat(3,13)=15,761, P=0,002). Verificou-se uma maior expressão dessa subunidade no córtex pré-frontal esquerdo em relação ao direito independentemente do tratamento (Flado(3,13)=6,134, P=0,028). Houve aumento da expressão protéica da subunidade α1 no córtex pré-frontal direito das fêmeas tratadas em relação ao grupo controle, mas não no esquerdo (CD=8,32±0,48, CE=15,86±1,47, PD=15,93±0,63, PE=12,04±1,91). Também foi verificada uma maior expressão dessa subunidade no córtex pré-frontal esquerdo em relação ao direito nas fêmeas do grupo controle (Fint(3,11)=17,341, P=0,002). Houve correlação negativa entre o tempo de imobilidade e a expressão do mRNA (r=-0,823; P=0,04) e da proteína (r=-0,954; P=0,0008) dessa subunidade no córtex pré-frontal direito, mas não no esquerdo. Em relação à subunidade γ2, o tratamento não alterou a expressão do seu mRNA, mas aumentou sua expressão protéica no córtex pré-frontal (CD=11,63±0,49, CE=12,16±0,4, PD=12,79±0,27, PE=13,42±0,41), não ocorrendo assimetria nessa expressão (Ftrat(3,13)=9,223; P=0,01). Não houve correlação entre a expressão dessa subunidade e o tempo de imobilidade. Conclusão: A administração crônica de progesterona tem efeito antidepressivo em ratas em diestro. Esse tratamento modula a expressão das subunidades α1 e γ2 do receptor GABA-A no córtex pré-frontal, existindo correlação negativa entre a expressão da subunidade α1 no córtex pré-frontal direito e o comportamento de imobilidade desses animais. Existe assimetria na expressão da subunidade α1, mas não da subunidade γ2 no córtex pré-frontal de ratas em diestro.