SBNeC 2010
Resumo:A.030


Oral / Poster
A.030Poluição atmosférica da cidade de São Paulo afeta o desenvolvimento embrionário de células de Purkinje.
Autores:Paula Valença Bertacini (FM USP - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo) ; Luiz Roberto Giorgetti de Britto (ICB USP - Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo) ; Paulo Hilário Nascimento Saldiva (FM USP - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo) ; Fernando Barbosa Júnior (FCFRP USP - Faculdade de Ciências Farmacêuticas) ; Heloisa Maria de Siqueira Bueno (FM USP - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo) ; Raquel Simoni Pires (UNICID - Universidade Cidade de São Paulo) ; Elnara Marcia Negri (FM USP - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo)

Resumo

A poluição atmosférica tem sido relacionada a efeitos nocivos à saúde mesmo quando a concentração de seus componentes não ultrapassa os limites previstos pela legislação. Estudos epidemiológicos e experimentais comprovaram a sensibilidade do período embrionário-fetal a poluentes atmosféricos, porém a ação do material particulado fino (PM2,5) sobre o desenvolvimento embrionário do sistema nervoso ainda é pouco estudada. O presente trabalho tem como objetivo avaliar as conseqüências da exposição embrionária ao material particulado fino no córtex cerebelar. Métodos: Suspensões de PM2,5 (1,5 e 20,0μg/100μL) foram injetadas na câmara de ar de ovos embrionados de Gallus gallus no início da incubação (E0). No 18º dia de incubação (37,5ºC; 51% UR), animais dos grupos controle intacto (CI) e salina (S) e dos grupos experimentais (PM2,5_1,5μg e PM2,5_20,0μg) foram perfundidos e os encéfalos submetidos aos métodos de imunoperoxidase (n=6) e imunofluorescência (n=5) empregando anticorpos contra calbindina (CB; 1:1000) e fator neurotrófico derivado do encéfalo (BDNF; 1:500). A ocorrência de morte neuronal foi investigada por meio de imuno-histoquímica para caspase-3 (CAS-3; 1:100) e pelo método que emprega fluorojade (n=5). Foram realizadas análises morfométricas para determinação da densidade de células e do comprimento dos dendritos utilizando o programa ImageJ. Cerebelos de animais não perfundidos foram avaliados em relação a elementos envolvidos na modulação redox celular, tais como superóxido dismutase (SOD), catalase, malonaldeído (MDA) e oxidação da hidroetidina (DHE). A detecção de elementos-traço nas suspensões de PM2,5 e no encéfalo dos animais foi realizada por espectrometria de massas com plasma acoplado (n=5). Os dados foram submetidos à análise de variância (One-Way ANOVA) e teste de diferença entre grupos (Tukey HSD e Bonferroni). Adotou-se nível de significância de 5% e resultados foram apresentados como média ± EP. Resultados: A avaliação da densidade de células de Purkinje imunorreativas à CB mostrou valores menores nos grupos experimentais (CI: 55,14 ± 0,9 e S: 55,22 ± 2,2 células/mm; PM2,5_1,5μg: 44,14 ± 2,0 e PM2,5_20,0μg: 41,95 ± 0,8 células/mm). Resultados negativos foram observados no ensaio com Fluorojade-C e a densidade de células de Purkinje imunorreativas à CAS-3 não variou significativamente entre os grupos. O comprimento total dos dendritos mostrou mudanças significativas nos grupos experimentais em relação aos controles (CI: 81,37 ± 2,9 e S: 81,07 ± 1,4μm; PM2,5_1,5μg: 65,29 ± 3,0 e PM2,5_20,0μg: 94,73 ± 2,0μm). O comprimento dos dendritos de primeira ordem mostrou diminuição de 16,5% no grupo PM2,5_1,5μg e aumento de 22,1% no grupo PM2,5_20,0μg em relação ao controle (S). A co-localização de CB/BDNF revelou diferença significativa entre as doses de PM2,5 e os controles. Foi observada atividade aumentada de catalase nos grupos experimentais enquanto a atividade de SOD e a quantificação de MDA e DHE não apresentaram diferenças significativas entre os grupos. Conclusão: O material particulado fino de origem veicular induz alterações na densidade das células de Purkinje, na morfologia de seus dendritos e na bioquímica do cerebelo no estágio embrionário avaliado. A resposta dose-dependente observada nos dendritos destas células e o aumento da atividade de catalase no cerebelo sugerem a ocorrência de mecanismos adaptativos.


Palavras-chave:  cerebelo, imuno-histoquímica, material particulado fino (PM2,5), modulação redox celular, morfometria