Resumo

Um número crescente de estudos vem mostrando que a exposição ao chumbo promove uma série de efeitos sobre a função dopaminérgica. Considerando que a função do sistema dopaminérgico tem sido amplamente associada com direção e magnitude do comportamento rotacional em roedores, objetivamos avaliar os efeitos da exposição subcrônica ao chumbo considerando a consistência da lateralidade rotacional de camundongos Suíços medida em teste de nado livre. Para a exposição ao chumbo, uma garrafa contendo solução de acetato de chumbo tri-hidratado de 180 ppm em chumbo (grupo Pb180, 24 fêmeas e 22 machos) ou de 540 ppm em chumbo (grupo Pb540, 9 fêmeas e 16 machos) foi a única fonte de água que os animais tiveram acesso do 30º ao 100º dia de vida. O grupo Controle (16 fêmeas e 20 machos) consumiu água potável. A partir do 96º dia de vida, o comportamento rotacional foi avaliado em três sessões de 5 minutos de nado livre (intervalo entre sessões = 48h). A partir das contagens do número de deslocamentos de 30º em cada sentido (direita = D; esquerda = E), foram calculados o número total de deslocamentos (NT = D+E) e o percentual de deslocamentos para o lado preferido [%LP = 100 x(maior valor entre E e D)/NT] para cada sessão. O %LP foi usado para avaliar a magnitude da lateralidade rotacional. Os animais foram considerados consistentemente lateralizados para a direita ou para a esquerda quando não invertiam o sentido preferencial de deslocamento nas 3 sessões. Após as sessões de nado livre, a concentração de chumbo no sangue (PbS) foi determinada pela técnica de Espectrometria de Absorção Atômica - forno de grafite. ANOVAs univariadas e de repetição foram realizadas respectivamente para as medidas de PbS e de nado livre. Os animais foram classificados pelo Sexo, pelo Tratamento e pela Consistência da Lateralidade. O fator medido repetidamente foi a sessão experimental. Diferenças significativas foram observadas entre o PbS dos grupos Controle (1,3 ± 0,2 µg/dL), Pb180 (36,1±1,7 µg/dL) e Pb540 (75,4±2,0 µg/dL) [F = 176,2; df = 1; P < 0,001]. Os valores de Pb-S não diferiram entre o grupo de animais consistentemente lateralizados (49,4±4,7 µg/dL) e não consistentes (47,4±3,9 µg/dL). No teste de nado livre, houve marcante diminuição do NT da 1ª (Controle = 395±25; Pb180 = 472±23; Pb540 = 541±32) para a 3ª (Controle = 227±23; Pb180 = 315±20; Pb540 = 308±28) sessão [F = 163,4; gl = 1,8/190; P < 0,001]. Conforme indicado pelo efeito do tratamento [F = 5,5; gl = 2/95; P < 0,01], a média do NT nas três sessões do grupo Controle (307±23) foi significativamente menor que a dos grupos Pb180 (388±20) e Pb540 (416±28) que não diferiram entre si. De modo interessante, o aumento do NT induzido pelo chumbo foi mais acentuado entre os animais não consistentes (Controle = 264±33; Pb180 = 405±31; Pb540 = 413±42) [F = 8,2; gl = 2/41; p < 0,001] do que entre os animais consistentemente lateralizados (Controle = 351±31; Pb180 = 371±26; Pb540 = 420±38) [F = 0,8; gl = 2/54; p = 0,22]. Os animais consistentemente lateralizados (73±1) apresentaram maior número de deslocamentos para o lado preferido que os animais não consistentes (64±2) ao longo das três sessões [F = 18,6; gl = 1/95; p < 0,001]. Nossos resultados mostraram que a magnitude dos efeitos do chumbo no teste de nado livre variou em função da consistência da lateralidade, sendo os resultados mais pronunciados no grupo de animais não consistentes (com menor lateralidade).