Resumo

Introdução: Intervenções no período neonatal influenciam a relação da mãe com os filhotes e podem levar a uma série de alterações comportamentais e neuroendócrinas na vida adulta. O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) possui uma regulação extremamente fina nesse período, podendo alterar de forma definitiva as respostas do organismo ao estresse. Os hormônios gonadais, como o estradiol, estimulam modificações cerebrais. Assim, é possível que alterações comportamentais e neuroquímicas observadas nos animais manipulados sejam influenciadas pela da ação desses hormônios. Além disso, estudos demonstram que o estradiol apresenta propriedades antioxidantes, sendo neuroprotetor. O cérebro é vulnerável aos danos dos radicais livres devido ao alto consumo de oxigênio, teor de lipídeos abundantes e relativa escassez de enzimas antioxidantes. Objetivo: Avaliar se a liberação de hormônios gonadais na adolescência afeta parâmetros do estresse oxidativo na idade adulta no córtex cerebral de ratas submetidas ou não à manipulação neonatal. Metodologia: Foram utilizadas 10 ratas Wistar prenhas. O dia do nascimento das ninhadas foi considerado dia 0, quando foram padronizadas em 8 filhotes por ninhada e divididas em não-manipuladas e manipuladas. Os animais foram submetidos a um ciclo normal claro/escuro de 12 horas, com ração padronizada e água ad libitum. Os filhotes do grupo manipulado foram colocados em uma incubadora (32°C) por 10 min/dia, do dia 1-10 após o nascimento. As ninhadas foram separadas por sexo no dia 21° pós-natal. Entre os dias 24° a 28° foram realizadas cirurgias de ooforectomia (OVX), efetuando-se uma ligadura e retirada dos ovários dos animais, sob anestesia. Aos 60 dias de vida os animais foram sacrificados, o córtex cerebral foi retirado e mantido a -70°C até análise das atividades enzimáticas de Superóxido Dismutase (SOD), Glutationa Peroxidase (GPx), Catalase (CAT) e da produção de radicais livres pelo método da oxidação da diclorofluoreceína (DCF). Resultados: Foram analisados por ANOVA de duas vias (tendo como fatores manipulação neonatal e cirurgia). Não foram encontradas diferenças significativas na atividade das enzimas antioxidantes SOD F(2,25)=1,164; CAT F(2,21)=0,824; GPx F(2,24)=2,668 e na produção de radicais livres pelo método da oxidação da DCF F(2,22)=0,091; em todos os casos P>0.05. Os valores expressos como média da percentagem do controle +erro padrão da média foram para cada grupo: SOD - Controle intacto (CI):100+25; Controle Sham (CS):214+42; Controle Ovx (CO):167+43; Manipulado intacto (MI):121+34; Manipulado Sham (MS):128+16; Manipulado Ovx (MO):135+25. CAT – CI:100+9; CS:119+27; CO:70+11; MI:98+9; MS:117+12; MO:112+31 GPx – CI:100+7; CS:112+5; CO:93+8; MI:121+15; MS:88+14; MO:100+8 DCF – CI:97+8; CS:105+11; CO:111+18; MI:87+8; MS:87+7; MO:93+11 Na relação das atividades das enzimas antioxidantes SOD/CAT F(2,21)=0,734 e SOD/GPx F(2,24)=0,124 não foram encontradas diferenças significativas. Conclusão: Estes resultados sugerem que não há influência dos hormônios gonadais nos parâmetros de estresse oxidativo avaliados, no córtex cerebral de ratos manipulados ou não. Entretanto, esse processo pode estar ocorrendo em outras estruturas cerebrais, abrindo perspectivas para avaliação futura das mesmas.