Resumo

Objetivos O Teste de Esconder Esferas (TEE) é um modelo experimental para a avaliação comportamental de camundongos que é sensível a drogas utilizadas na clínica para o tratamento do transtorno obsessivo compulsivo. No TEE os camundongos apresentam comportamento consistente de esconder poucas ou muitas esferas, independentemente do número de vezes que são expostos ao procedimento. As drogas que reduzem o número de esferas escondidas no TEE também são ativas em diminuir o tempo de imobilidade no Teste de Suspensão pela Cauda (TSC), utilizado na triagem inicial de substâncias potencialmente úteis como antidepressivas. O objetivo deste estudo foi avaliar se esta distinção de comportamento no TEE (esconder poucas ou muitas esferas) fornece prognóstico para comportamentos distintos no TSC. Métodos Foram usados camundongos Swiss adultos, machos, com cerca de 45 dias de idade, mantidos sob condições controladas de temperatura (21ºC ±2) e ciclo claro/escuro de 12h. Comida e água foram disponibilizadas ad libitum até 2 horas antes da realização dos experimentos. Os animais foram expostos, primeiramente, ao TEE, que consiste em colocar cada um em uma gaiola (dimensões: 27 X 16 X 13 cm), com uma camada de 5 cm de maravalha e 25 esferas de vidro (com 1,5cm de diâmetro) dispostas uniformemente. Após 30 minutos, o número de esferas totalmente recobertas pela maravalha foi contado. Este procedimento foi realizado três vezes, em dias consecutivos, e os animais que esconderam menos que 13 esferas em pelo menos um dos dias foram classificados como “maus escondedores” e compõem o grupo A. Os outros foram classificados como “bons escondedores” e compõem o grupo B. Três dias depois da exposição ao TEE os mesmos animais foram submetidos ao TSC, que consiste em manter o animal suspenso com o auxílio de uma fita adesiva colocada próxima a extremidade da cauda, situação na qual o animal não tem qualquer apoio e não consegue fugir. Seu comportamento foi gravado em arquivo de vídeo por 5 minutos para posterior registro (em segundos) da latência para a exibição do primeiro comportamento de imobilidade e do tempo total de imobilidade. Resultados Os resultados são apresentados como mediana e intervalo interquartis [mediana (Q1-Q3)], e foram comparados pelo teste de Mann-Whitney, considerando-se significantes as diferenças associadas a p &le 0,05. Os resultados do TEE foram 6(3-8) para o grupo A e 20(18-20) para o grupo B (p<0,01). No TSC, observou-se que a latência para o primeiro comportamento de imobilidade do grupo A foi de 34(32-37) e do grupo B foi 41(37-53) e o tempo total de imobilidade foi 146(110-173) e 106(82-110), respectivamente (p>0,05 em todos os casos). Conclusão O TEE é um modelo experimental que parece estar relacionado ao transtorno obsessivo compulsivo, enquanto o TSC relaciona-se com a depressão; ambos são sensíveis a antidepressivos tricíclicos. Sabendo disso, espera-se que circuitos neurais semelhantes estejam envolvidos nas respostas aos dois modelos, o que nos leva a pensar que animais que apresentam comportamentos distintos no TEE, teriam respostas comportamentais diferenciadas também no TSC. Os resultados, no entanto, mostraram que os grupos não diferem quanto aos parâmetros avaliados no TSC, ou seja, não é possível determinar o comportamento do animal neste modelo baseando-se em seu comportamento no TEE.