Resumo

INTRODUÇÃO: A bulbectomia olfatória (B.O.) bilateral resulta em alterações comportamentais, neuroquímicas, neuroendócrinas, neuroimunológicas e morfológicas compatíveis e comparáveis ao que é observado na clínica em pacientes com depressão. Recentemente, nosso grupo demonstrou que o extrato etanólico obtido das cascas de Tabebuia avellanedae produz um efeito do tipo antidepressivo no teste do nado forçado (TNF) e teste da suspensão pela cauda (TSC) em camundongos. OBJETIVOS: Investigar o potencial antidepressivo do extrato de T. avellanedae em camundongos submetidos à B.O., através da reversão de alterações comportamentais induzidas por este modelo. MÉTODOS: Camundongos Swiss fêmeas (n = 6-9/grupo), pesando 30-40 g, mantidos a 22-24°C com livre acesso à água e comida, em ciclo claro/escuro de 12 h foram utilizados. Para verificar o efeito da administração repetida do extrato de T. avellanedae sobre o TSC e teste do campo aberto (TCA) os animais foram tratados com extrato nas doses de 10, 30 ou 100 mg/kg, por via oral durante 14 dias, e após 24 h do último tratamento foram submetidos ao TSC ou TCA. Para a realização da B.O. por sucção, os camundongos foram anestesiados com quetamina (100 mg/kg, i.p.) e xilazina (6 mg/kg, i.p.). Os animais foram tratados com extrato de T. avellanedae decorridos 14 dias de recuperação da B.O. (pós-operatório) e testados após 24 h do último tratamento, no TCA e splash teste. Os animais do grupo Sham foram submetidos aos mesmos procedimentos, porém, seus bulbos olfatórios permaneceram ilesos. Empregou-se, como controle positivo o antidepressivo fluoxetina (10 mg/kg, p.o.). RESULTADOS: O extrato de T. avellanedae (10 mg/kg, p.o.) administrado durante 14 dias a camundongos exerceu efeito tipo-antidepressivo no TSC, pois reduziu (31,2 ± 3,6 %) o tempo de imobilidade dos camundongos (P<0,05), sem aumentar a locomoção dos mesmos no TCA em relação ao grupo controle (P>0,05 . A B.O. acarretou aumento da atividade locomotora (97,9 ± 4,0%; P<0,01) e aumento do comportamento exploratório vertical (64,9 ± 1,7%; P<0,01) dos animais no TCA. Além disso, a B.O. causou um comportamento anedônico no splash teste, pois aumentou o tempo de latência para auto-limpeza (87,6 ± 6,7%; P<0,05), bem como reduziu o tempo de auto-limpeza (50,6 ± 10,2%; P<0,01). Os tratamentos com extrato de T. avellanedae e fluoxetina durante 14 dias não reverteram a hiperatividade, mas foram efetivos em prevenir o comportamento tipo-anedônico, uma vez que o extrato (30 mg/kg, p.o.) reverteu o aumento do tempo de latência para auto-limpeza no splash teste causado pela B.O. (103,9 ±16,3% X grupo sham: 100%; P<0,01), além de reverter, assim como a fluoxetina (10 mg/kg, p.o.), a diminuição do tempo de auto-limpeza dos animais causado pela B.O. (89,2 ± 4,2% e 95,0 ± 6,5%, X grupo sham: 100%; P<0,01). CONCLUSÕES: Considerando que este modelo é proposto como bastante adequado para avaliação do potencial antidepressivo de fármacos por refletir algumas alterações comportamentais existentes na depressão em humanos, podemos sugerir que o extrato de T. avellanedae poderá se constituir em um novo e atrativo agente antidepressivo com aplicação na clínica.