Resumo

Introdução: O Ambiente Enriquecido (AE) é definido como uma combinação de interação social, exercícios físicos e exposição continuada a “possibilidades de aprendizagem” que pode alterar a estrutura e função do encéfalo de roedores. Na literatura, o AE tem sido referido a condições de moradia em caixas ou câmaras exploratórias, onde há a facilitação dos estímulos sensoriais, cognitivos e motores. Além disto, estudos com AE demonstraram melhorias significativas na capacidade dos animais em cativeiro de se adaptarem a novas situações. Em geral esses estudos demonstraram melhorias nos aspectos da cognição e da emocionalidade. Objetivo: Verificar os efeitos da exposição ao AE sobre a memória espacial de ratos em diferentes idades. Método: Foram utilizados ratos Wistar, machos, com 40 dias de vida, distribuídos em dois grupos (experimental=8 e controle=8). Apenas os animais do grupo experimental foram expostos ao AE, iluminado por luz infravermelha, 2 horas/dia (imediatamente após o início do período de escuro - 18:30h), 5 dias/semana, por 30 dias, privados de alimento 12 horas antes da exposição. O AE foi composto por duas arenas circulares de madeira contendo objetos diversos, industrializados ou não, chamados de “brinquedos”. Alguns produziam som ao serem movimentados, outros promoviam desafios aos animais para a obtenção de alimento (subir em uma plataforma, passar por um “túnel”, tocar em um objeto suspenso, etc). Em cada arena eram colocados quatro animais por sessão. A cada seis dias os animais eram redistribuídos, e os brinquedos eram trocados. Após 30 dias de exposição ao AE, tanto os animais submetidos ao AE quanto os do grupo controle foram submetidos ao teste do labirinto aquático de Morris, e repetido aos 120 e 540 dias de vida. Entre o 1º, o 2º e o 3º testes, os animais não receberam estímulo. Resultados: Os resultados mostraram redução significativa no tempo para localizar a plataforma, nos animais do grupo experimental, tanto aos 70 dias de vida (C=49,4±17,3; Exp=26,8±16,7, p=0,035), quanto aos 120 dias (C=19,7±9,1, Exp=13,9±11,4, p=0,003), quando comparados aos do grupo controle. Já em relação aos dados aos 540 dias, não se observou diferenças entre os grupos testados (C=23,98±14,8, Exp=29,3±18,4, p=0,61). Discussão: Estes resultados sugerem que a exposição, durante o início do desenvolvimento juvenil, ao ambiente enriquecido promoveu facilitação na memória espacial dos animais e que esta facilitação manteve-se até a idade adulta (120 dias), mesmo sem a continuidade dos estímulos, mantendo a plasticidade neural adquirida, por cinquenta dias, conforme dados da literatura. Entretanto, quando os animais foram mantidos sem estímulos, da fase adulta até a de envelhecimento (540 dias), observou-se que as vantagens adaptativas não se mantiveram. Conforme mostrado por alguns autores, é necessário o estímulo de circuitos neurais do giro denteado do hipocampo, em animais mais velhos (365 dias), para observarmos facilitação das respostas. Um único período de estímulo, 24 horas antes do teste no labirinto aquático, em animais idosos de 540 dias, não foi suficiente para manter uma resposta adaptativa adquirida na fase juvenil da vida do animal. Conclusão: Este trabalho sugere que a manutenção do aprendizado e a memória espacial adquiridos por ratos jovens é perdida após a idade adulta, se não mantido nenhum nível de estimulação a esses animais.